terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SUGESTÕES: A Carta de nascimento do Brasil


Para o Brasil é um pouco como que a sua "certidão de nascimento", um primeiro testemunho fundador do imenso país - a todos os níveis: geográfico, étnico, cultural, etc.. - em que se tornou o "Brasil" que hoje conhecemos.

Referimo-nos à célebre "Carta de Pêro Vaz de Caminha", escrita em 1500, num estilo quase jornalístico, por um escrivão que foi a bordo da armada de Pedro Álvares Cabral que em 22 de Abril desse ano tocou nas costas do que mais tarde foi o Brasil - "Porto Seguro" e "Terras de Vera Cruz", como então lhe chamaram.

Na nossa Biblioteca possuímos um exemplar publicado aquando das celebrações dos 500 anos da descoberta pelos europeus. Ocupa um lugar de destaque numa prateleira e era bom que foi mais lida pelos nossos utilizadores. Aos professores de História deve caber a divulgação da mesma - no 8º e 10º anos, de certeza... - mas era uma pena que os outros também pudessem disfrutar do prazer da leitura da mesma, duplamente: pela riqueza do que decreve - a estranheza provocada pelo encontro de culturas muitíssimo diferentes -, mas também pela linguagem que usa para o fazer, com os arcaísmos e formas próprios de uma língua, a nossa, então com menos 500 anitos de uso-treino!!

Fica o convite! Divirtam-se... e pensem em crescer por dentro... como as sequoias!

Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo."

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carta_a_El_Rei_D._Manuel

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