terça-feira, 25 de dezembro de 2007




S. Martinho de Anta, 24 de Dezembro de 1972




Natal




Fiel das horas mortas
Desta noite comprida,
Pergunto a cada sombra recolhida
Que sol figura o lume
Que da lareira negra me sorri:
O do calor cristão?
O do calor pagão?
Ou a fogueira é só a combustão
Da lenha que acendi?

Presépios, solstícios, divindades...
A versátil natureza
Do homem, senhor de tudo!
Cria mitos,
Destroi mitos,
Nega os milagres que fez,
E depois, desesperado,
Procura o mundo sagrado
Nas cinzas da lucidez.


Miguel Torga, Poesia Completa

Sem comentários: